Qual incauto inventou de chamar imortais os membros da Academia Brasileira de Letras? Diga logo, que vou tirar satisfação com esse falsário.
Pois a morte não fez concessão ao querido João Ubaldo e levou-o da noite para o dia, sem nem uma piscadinha prévia pra ir preparando a gente.
Querido que não conheci pessoalmente, mas quem precisa conhecer pessoalmente um escritor para a ele se afeiçoar e qual ávido leitor não é profundo conhecedor de seu escritor favorito?
Quando ele se foi em julho de 2014 senti-me verdadeiramente órfã de escritor, se é que isso existe.
João Ubaldo tinha verve, tinha uma prosa danada de afiada, era erudito e cômico ao mesmo tempo, de uma sensibilidade ímpar na criação dos tipos mais populares e nada politicamente correto, outro delicioso paradoxo. Extremamente irônico, pura sofisticação literária.
As crônicas de sua coluna no jornal o Estado de São Paulo eram para mim um presente nas manhãs de domingo.
Seus últimos textos foram publicados logo após a sua morte sob o título “Noites Lebloninas”. Era pra ter sido uma antologia magistral, não fosse a desavisada morte ter vindo precocemente busca-lo, logo ele que era imortal. São dois contos imperdíveis.
Pois recentemente li outra antologia maravilhosa, escrita no início dos anos 80: “Já podeis da pátria filhos”.
Se você quiser se aventurar por seus romances, indico fortemente “O sorriso do Lagarto” e “O Feitiço da Ilha do Pavão”, definitivamente não os mais famosos, porém os meus prediletos.
Cronista, contista, romancista, “meio itaparicano, meio leblonino”, João Ubaldo dispensa apresentação como grande autor contemporâneo tal a magnitude de sua obra.
A morte ignorou sua imortalidade, mas a imortalidade de sua obra é incontestável, graças a Deus!